quinta-feira, 23 de julho de 2009

EDUCAÇÃO SEM DESCULPAS

EDUCAÇÃO SEM DESCULPAS


*Por Rachel Coelho


Ao longo da última década, em Nova Iorque, dezenas de escolas charter, escolas independentes que atuam com o apoio público e recebem fundo de iniciativa privada tem produzido grandes resultados com base num novo método: o "No excuses Schools", as "Escolas Sem Desculpas".
As escolas Harlem Children's Zone são um projeto notável, considerado recentemente pelo New York Times , "uma das mais ambiciosas experiências sociais do nosso tempo." Sendo uma das maiores realizações na área educacional dos últimos tempos, os grupos Harlem Children’s Zone estão provando que é possível recuperar crianças de baixo nível socioeconômico, crianças negras e aquelas para as quais o inglês é a segunda língua.
Os resultados também mostram um modelo emergente para estudantes de baixa renda. A teoria básica é que as crianças de classe média entram na adolescência com determinados modelos de trabalho em suas cabeças: o que eu posso alcançar, a forma de controlar impulsos; como trabalhar duro. Muitas das crianças mais pobres, com desestruturação familiar não têm interiorizado esses modelos.
A criança dentro do programa é trabalhada como um todo (seu ambiente familiar, aspectos sociais) e não somente com disciplinas curriculares. Um dos princípios trabalhados é que tanto a família quanto a comunidade se engajem no projeto. Pode haver até mesmo um incentivo econômico para que os pais participem do programa, mas mesmo na ausência desses fatores há todo um trabalho psicológico onde valores de classe média são incutidos nos alunos para que eles tenham aspirações na vida. Além de estímulos a auto estima, aprendem bons comportamentos sociais: como se comportar em público, como apertar uma mão etc.
A idéia é de Geoffrey Canadá, que afirma que as escolas, hoje, tem que ser redesenhadas para o sucesso . O programa abrange 100 blocos e atende 10.000 crianças em torno do Harlem. É um exemplo de como a inovação permitida em escolas charter, livre do jugo das tradicionais escolas públicas, pode ser um catalisador para a inovação e realização.
Nesse modelo de sucesso, o ano escolar também é mais longo. Segundo Canadá, algumas Harlem Children's Zone escolas estão abertas das 8h45 às 5h45, 11 meses por ano, porque é isso que é necessário para buscar esses estudantes. A avaliação de todos os passos é feita todos os dias pra ver o que está dando certo. Os resultados saem bem rápido para não deixar o aluno perder o passo, afinal ele tem que recuperar ainda no mesmo ano letivo. Os que estão com desempenho ruim passam 50 por cento mais tempo na escola. Já os que estão bem, ficam por mais 2 horas além do horário tradicional. Também são cobrados dedicação e esforço dos professores que são trocados quando após constantes avaliações, houver baixo desempenho dos alunos.
Alguns especialistas em educação argumentam que a escola sozinha não pode produzir grandes alterações. Os problemas estão na sociedade, e você tem de trabalhar em questões mais amplas como as desigualdades econômicas. Reformadores, por outro lado, afirmaram que a escola com base em abordagens pode produzir grandes resultados: crianças americanas de origem africana com médias iguais a crianças de classe média branca.
Canadá, que também é presidente e diretor executivo do Harlem Children’ s Zone, explicou na reportagem do New York Times que "se você intervém precocemente, a educação começa antes do nascimento, tendo os pais como parceiros e depois sendo academicamente rigoroso, você pode corrigir o problema. Se você começa mais tarde, no ensino médio, ainda é possível mas é muito, muito mais difícil. É como um paciente que está meio morto e tenta-se salvá-lo”. Canadá também defende que para eliminar o fosso social, o investimento nas crianças pobres deve ser maior, a nível comunitário e de longo prazo. Canadá estimou que a sua empresa investe uma média de 5.000 dólares por criança acima do que já é gasto em escolas públicas e programas para famílias pobres do bloco 100-seção do Harlem.
Na mesma matéria, Canadá disse que conheceu vários presidentes, governadores e secretários da educação e eles perguntaram para ele qual era a a solução? E ele respondia: "Eu sou completamente responsável por essas escolas e por alcançar essas crianças. Alguém tem que ser responsável”.
Quando Canadá começou o projeto Harlem Children's Zone, disse a seus financiadores que, se ele não mostrasse uma reviravolta completa na péssima performance do Harlem no prazo de cinco anos, que deveriam demiti-lo. Ao explicar isto para seus professores disse, "Sim, mas eu sou o último a ir embora." Ele incutiu um sentimento de responsabilidade em todo o seu pessoal.
"É um trabalho árduo, mas infinitamente factível", explica Canadá. Apesar dos resultados, faltam professores. Ninguém quer trabalhar nessas escolas. Eles até concordam em pagar um salário melhor mas vinculado ao desempenho, por isso são avaliados constantemente.
Essa é uma apaixonante experiência para copiarmos sem "nenhuma desculpa, no que for preciso". Um novo modelo de escola concebido para um tempo diferente. Com um senso de responsabilidade social e uma vontade acadêmica. É só realizar, sem desculpas.

Rachel Coelho é professora universitária e Diretora Presidente do Movimento Educacionista do Brasil- MEB


artigo publicado no Blog do NOBLAT


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